Couro movimenta economia, mas exportações em queda ameaçam competitividade do país
Luiz Bittencourt Presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB)
A despeito da indústria brasileira do couro ser uma das atividades mais antigas do País, cujas origens remontam aos idos do século XVII, foi nas últimas duas décadas que o setor curtidor ganhou a musculatura que lhe assegurou a condição de firmar-se como um dos maiores players na competitiva economia globalizada.Tal posição de destaque é resultado de investimentos realizados pela iniciativa privada da ordem de US$ 300 milhões para expandir e modernizar o parque industrial nacional, em consonância com ações de prospecção de mercados internacionais, reforçados a partir de convênios firmados, desde 2000, com a Agência de Promoção de Exportação e Investimentos.Unindo três vertentes - tecnologia de ponta, marketing agressivo e práticas ambientais adequadas -, a indústria brasileira do couro é um dos grandes motores da economia e sua importância pode ser mensurada pela geração de divisas (US$ 2,2 bilhões, no ano passado), de oportunidades de negócios, e de empregos diretos e indiretos.Em todo o período da parceria com a ApexBrasil, o setor agregou, continua e de forma crescente, valor às exportações.A importância da atividade pode ser avaliada pelo PIB que movimenta, da ordem de US$ 3,5 bilhões, pelo número de empregos que gera - ao redor de 50 mil pessoas - e pelo volume de exportações: a despeito das dificuldades que o setor vem enfrentando este ano, os embarques somaram US$ 1,53 bilhão até o mês de setembro. As exportações já posicionam o Brasil como o segundo maior produtor internacional de couros (44,4 milhões de peças) e quarto maior exportador.Demonstrando enorme agilidade, o setor conseguiu identificar, antecipadamente, a queda da demanda de couros pela indústria calçadista - que vem focando suas aquisições para produtos sintéticos, mais competitivos - para redirecionar suas vendas para outros mercados, de maior valor agregado. Assim, hoje mais de 60% do couro bovino é destinado aos segmentos automotivo e de estofamento, segmentos que priorizam o couro como forma de diferenciar e valorizar seus produtos.A despeito da agilidade e criatividade do segmento, é preciso atentar para o movimento de inflexão que o setor vive, reflexo da crise americana que provoca uma recessão no mercado mundial e uma desconfiança que imobiliza os negócios em todos os setores. Nos primeiros nove meses deste ano, as exportações de couro já registram uma diminuição de 6% em receita e uma queda de 22% em volume.Em setembro, as exportações brasileiras contabilizaram US$ 150 milhões, diminuição da ordem de 4% no faturamento ante o mesmo mês do ano passado e uma redução de 4% nas peças embarcadas.Assim, a se manter a média mensal até agora registrada, as metas de vendas externas de couros, em 2008, dificilmente serão alcançadas. A apreciação do real nos nove primeiros meses do ano vem reduzindo significativamente as margens, inviabilizando negócios e tolhendo a competitividade do setor.Esse quadro está sendo agravado pelas incertezas econômicas que se abateram sobre as principais economias, reflexo do mercado consumidor americano, já se alastrando para outros mercados internacionais. O segmento do couro, neste caso, não está imune aos impactos negativos de um eventual recrudescimento da crise econômica.Para contrapor-se a tal cenário, o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), entidade federativa que representa, há 51 anos, as 800 empresas de produção, processamento e comercialização de couro, propõe, medidas urgentes para manter a competitividade do setor.Dentre elas, a imediata agilização no ressarcimento dos créditos retidos nas exportações (especialistas avaliam que em todos os setores do País, devem alcançar cerca de R$ 17 bilhões), a desoneração da produção, a alocação de parte substancial de recursos do Revitaliza (R$ 3 bilhões) para o capital de giro das empresas, e a desburocratização na emissão de certificados sanitários.O CICB entende que somente políticas setoriais efetivas e parcerias entre o setor público e a iniciativa privada podem contribuir para a geração de divisas, riquezas e empregos, principalmente em um ambiente de incertezas econômicas.
7 de nov. de 2008
Postado por Hildo Filho às 03:17
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