Uma boa lactação depende do manejo durante o período seco
Junio Cesar Martinez -Engenheiro Agrônomo pela UFMT e Doutorando em Ciência Animal e Pastagens (Esalq/USP).
O sucesso de uma granja leiteira depende do manejo empregado nas fases do processo de produção. Dados de pesquisa e dados da prática demonstram que o máximo retorno sobre um período lactacional das vacas depende do manejo que é dado a cada vaca durante o período seco. A lucratividade na exploração de rebanhos leiteiros depende de um balanço entre altas produções, boa saúde do rebanho e sucesso na reprodução. Um excelente desempenho nestas três áreas são os principais determinantes do retorno econômico.Durante o ciclo lactacional, existe essencialmente uma única oportunidade de estabelecer e assegurar boa saúde e reprodução, que é o período seco ou período de transição. O período de transição se refere aos 45 a 60 dias antes do parto. O período mais crítico para uma vaca de leite são os 21 dias antes e após o parto.O correto manejo alimentar durante o período de transição tem profundo efeito sobre o consumo de alimento. Consumo de alimento é o maior fator influenciando produção de leite e variação do peso vivo no início da lactação. Alta ingestão de alimento no início da lactação reduz o tempo que as vacas permanecerão em balanço energético negativo. Também, minimizando a duração e a extensão do balanço energético negativo, surte efeitos positivos na reprodução.Uma das metas chaves é conseguir vacas com condição corporal adequada para cada estágio de lactação. Maximizando o consumo de alimento durante o período de transição, essa meta pode ser mais facilmente atingida.O que a vaca come durante o período seco é fortemente marcado por fatores biológicos e por fatores de caráter nutricional (Figura 1).
Figura 1 - Fatores que influenciam o consumo de alimento de vacas durante o período seco. Adaptado de Schroeder (2001)A seguir, discorreremos sobre algumas dicas de manejo a este grupo de animais. Os dados apresentados são exclusivos para animais confinados e basicamente levantados tendo a raça Holandesa como base. Dados com vacas em pastagens são escassos na literatura ou até mesmo inexistentes.Fase final da lactação- Adicionar peso às vacas durante o final da lactação, antes do período seco, pois nesta fase a conversão de energia a reservas corporais é feita com maior eficiência (70 a 75%) do que no período seco (55%).- As vacas deverão ter condição corporal entre 3.0 e 3.75 na escala de 1 a 5.- As vacas muito magras (3.0 a 3.5) deverão ter período seco de 60 dias.;- As vacas com escore entre 3.5 a 4 deverão ter somente 45 dias. Vacas com menos de 45 e mais de 60 dias de período seco produzem menos leite durante a próxima lactação.Manejo de vacas secas- Exercícios adequados são essenciais para manter a musculatura tonificada e reduzir as possibilidades de deslocamento de abomaso. Vacas que não se exercitam adequadamente têm maiores probabilidades de problemas pós-parto, mastite e problemas nas pernas.- Esforçar-se para alimentar as vacas secas separadamente. Competição por espaço no cocho limita o consumo neste estágio crítico e pode aumentar os riscos de desordens metabólicas.- Evitar escore corporal acima de 4.25. Vacas gordas são mais propensas a cetose e consomem menos alimento no início da lactação.- O ideal é que a vaca ganhe 450 gramas de peso por dia durante o período seco.Alimentação próximo do parto- Normalmente o consumo de alimento diminui em 5% por semana nas três últimas semanas que antecedem o parto e em 30% nos últimos três a cinco dias antes da parição. Tipicamente o consumo de holandesas confinadas é de 12 kg de matéria seca/dia, esperando-se uma redução de 0,6 kg/dia. Na semana do parto o consumo pode reduzir em 3,6 kg/dia.- Fornecer forragem e alimentos que forneçam um total de no máximo 100 gramas de cálcio (ou 0,7% de cálcio na ração total) e 45 a 50 gramas de fósforo (0,35% da MS). A relação de Ca:P deve ser de 2:1 ou menor.- Ir adaptando as vacas para a futura lactação introduzindo silagem ou feno na dieta a fim de que a dieta não flutue bruscamente.- Incluir concentrados e os grãos utilizados na dieta. Isso é importante para as bactérias do rúmen se adaptarem. Evite suplementos minerais, especialmente o bicarbonato de sódio.- Grãos podem ser incluídos em 0,5% do peso vivo (3,2 kg/vaca/dia) para vacas em bom estado corporal e 0,75% do PV para vacas abaixo do peso ideal.- Fornecer sais aniônicos com rações altas em cálcio (maior que 0,8% da MS) ou alto potássio (maior que 1,2% da MS).- As vacas não devem perder peso durante esse período, particularmente nos últimos 10 a 14 dias antes do parto. Vacas que perdem peso neste momento depositam gordura em excesso no fígado e ficam predispostas a síndrome do fígado gorduroso.Na parição- Condição corporal é importante. Vacas parindo com escore abaixo de 3 têm baixa persistência na lactação e reservas energéticas inadequadas para reprodução. Por outro lado, vacas gordas têm predisposição a desordens metabólicas, deslocamento de abomaso, distocia, retenção de placenta, infecções uterinas e cistoses.- Febre do leite (hipocalcemia) deprime contrações ruminais, aumentando deslocamento de abomaso, deprime contrações uterinas, aumentando o risco de distocia e retenção de placenta, diminui o apetite o que leva a baixa produção, alta perda de peso e reprodução ineficiente.Alimentação da vaca recém parida- A ração deve maximizar a disponibilidade de energia. Force o pico de consumo de alimento para ocorrer o mais breve possível. Evite alimentos pouco aceitáveis pelos animais.- Forneça forragem de alta qualidade, com efetividade adequada e em dietas com adequado nível de fibra. Na maioria dos casos o mínimo de fibra é 40% do consumo de MS.- Limite o teor de umidade em 50% quando alimentos fermentados úmidos ou frescos são oferecidos.- Forneça o alimento várias vezes ao dia, essa prática favorece e maximiza o consumo de alimento.Considerações finaisFica claro que a qualidade do alimento oferecido aos animais é essencial para aumento de produção. Tão importante quanto às características do alimento, o manejo alimentar é indispensável para maximizar o desempenho e longevidade das vacas. Melhorias na saúde dos animais e otimização da produção de leite são os principais fatores para rentabilidade nas granjas leiteiras.
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